segunda-feira, 24 de abril de 2023

A aventura marítima (VI)


" Ocupa a Ribeira das Naus um espaço vastíssimo, fechado em parte pelos muros da cidade e em parte pelo edifício do Paço real, e estende-se até ao mar. 

Constrói-se ali todo o género de navios e especialmente essas grandes naus (...) que abriram a navegação da Índia e a conservam ainda com as suas contínuas viagens. (...) 
É admirável aqui, na verdade, a abundância de tudo o que é necessário para abastecer a armada  (...)." (1)

"De Portugal mandam jóias e pérolas orientais (...), ouro (...), especiarias, drogas, âmbar, marfim, (...), incenso, mirra, pau-da-Índia e outras coisas preciosas em grande quantidade, que delas de fornece a maior parte da Europa; as quais cousas os Portugueses conduzem das Índias Orientais a Lisboa e até cá, [Antuérpia] todos os dias. Conduzem também os aç´
ucares da ilha de S. Tomé e trazem igualmente a malagueta (...) da Costa da Guiné, (...) não esquecendo os óptimos açúcares e o vinho da Madeira (...). Mandam do reino deles bastante sal, vinho, azeite, e além disso (...) variadas frutas. Para lá [ de Portugal] manda-se prata, (...) bronze e latão, estanho, chumbo, armas (...), artilharia e outras munições de guerra; telas de ouro e prata." (2)

" D. Manuel quando comia, embora comesse depressa, nem por isso deixava de conservar com letrados que o acompanhavam sempre e sobretudo com estrangeiros (...)
Gostava muito de música e a maior parte das vezes resolvia os assuntos do Reino ao som da música. Tinha uma das melhores capelas (...) composta por cantores e tocadores que vinham de todas as partes da Europa (...)
A maior parte dos domingos e dias santos D. Manuel ia, depois de comer, ver correr cavalos e corria também (...). Quando não ia às corridas, ia passear num barco, todo embandeirado de seda, levando sempre música e algum oficial seu, com quem ia despachando.

Algumas vezes, merendava frutas, conservas e coisas de açúcar, vinho e água (...). Mandava muitas vezes correr touros (...). 
Todos os domingos e dias santos (...) dava serão às damas e cortesãos, no qual todos dançavam (...)" (3)

" Não temo de Castela / Aonde inda guerra não soa; / Mas temo-me de Lisboa, / Que, ao cheiro desta canela, / O reino despovoa.

Lisboa vimos crescer / Em povos e em grandeza / E muito se enobrecer / Em edifícios, riqueza, em armas e poder." (4)

(1) - Duarte Sande, Diário, 1584, (adaptado)
(2) - Ludovico Guiacciardini, Relação (agente comercial em Antuérpia), séc. XVI, (adaptado)
(3) - Damião de Góis, Crónicas de D. Manuel, (adaptado)
(4) - Garcia de Resende, Miscelânea, (adaptado)
Imagem: atribuído a António de Holanda, Livro de Horas do Rei D. Manuel

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