segunda-feira, 24 de abril de 2023

A aventura marítima (V)


" Pelo meio desta cidade corre outra grossa ribeira de água, a qual vem ter ao porto (...) e se reparte por quatro principais chafarizes, afora outro que sai junto do cais, donde provêm todos os navegantes e armadas (...). Tem esta cidade ao redor de si muitos pomares, jardins e hortas, de que é também servida e provida, como o é de todas as outras partes da mesma ilha e das outras ilhas." (1)

"[O Infante D. Henrique] fez povoar a Madeira por Portugueses (...); cheia de árvores, foi necessário aos que a quiseram habitar pôr-lhe fogo (...). Assim desapareceu grande parte do dito bosque (...) e embora seja montanhosa nem por isso deixa de ser fertilíssima, colhendo-se cada ano 180 000 alqueires de trigo (...).
Por ser a ilha banhada de muitas águas, o Infante fez plantar muitas canas-de-açúcar, pois a terra é muito própria pelo seu ar quente e temperado (...). Produz cera e mel (...), os seus vinhos são muito bons (...) e são em tanta quantidade que (...) sobram para exportar." (2)

"Na manhã seguinte fizemo-nos à vela, esperando achar gente (...). Apareceram algumas embarcações (...). Em cada uma das proas havia um negro de pé, com um escudo redondo no braço (...) Os nossos navios descarregaram quatro bombardas. Aterrados (...) pelo grande estrondo, deixaram cair os arcos, admirados por verem as pedras das bombardas ferir a água junto de si. (...) Depois (...) perguntámos-lhes por que nos ofendiam, sendo nós gente pacífica e vindo tratar de mercadorias (...). A sua resposta foi que tinham alguma notícia de nós, os cristãos (...), que não comprávamos os negros senão para os comer; por isto não queriam o nosso comércio por modo nenhum, porém, sim, matar todos nós (...)." (3)

"Para Pêro do Campo Tourinho poder povoar a capitania de Porto Seguro vendeu todos os seus haveres e preparou à sua custa uma frota de navios, na qual embarcou com sua mulher e filhos (...). E com bom tempo foi demandar a terra do Brasil e foi tomar porto no rio de Porto Seguro, onde desembarcou com a sua gente (...). No seu tempo instalaram-se alguns engenhos de açúcar, no que teve nos primeiros anos muito trabalho por causa da guerra que lhe fizeram os índios (...)." (4)

"Senhor:
(...) as armas que Vossa Alteza mandou, digo-vos o grande serviço que foi vosso; na Índia não haveria, antes da chegada destas armadas, mil e duzentos homens, uns em Malaca, outros em Goa e em outras fortalezas, e entre eles não havia trezentos homens armados (...).
E esta é a verdade.
(...) Porque via Malaca em vosso poder, que é fonte de especiarias e riquezas destas partes e chave de navegação do estreito, e Goa que é freio de toda a Índia e segurança de toda a navegação das naus de carga (...); e não ver gente nem armas para as segurar e conservar, e ver-vos mandar à Índia armadas, sem gente e sem armas, tirando Vossa Alteza um milhão de ouro." (5)

"Estes homens, bárbaros do Sudoeste, são comerciantes. (...) Bebem por um copo sem oferecer aos outros; comem com as mãos e não com pauzinhos como nós. Revelam os seus sentimentos com franqueza. Não compreendem o sentido dos caracteres escritos. São pessoas que passam a vida a vaguear daqui para ali, sem domicílio fixo, e trocam coisas que possuem por coisas que não têm; no fundo, é gente que não faz mal." (6)

(1) - Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra (século XVI), (adaptado)
(2) - Luís de Cadamosto, Primeira navegação, (adaptado)
(3) - Luís de Cadamosto, Primeira Viagem, (adaptado)
(4) - Gabriel Soares, Roteiro Geral, século XVI, (adaptado)
(5) - Afonso de Albuquerque, Carta a D. Manuel I, 1512, (adaptado)
(6) - Relato de Teppo Hi, escritor japonês do século XVI, (adaptado)
Imagem - Chegada dos portugueses ao Japão, século XVI, Arte Namban

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