sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Entre o século XVII e XVIII


O século XVII foi um período de crise económica, social e política, de certo modo semelhante à que se tinha vivido no século XIV.  Em ambas se verificou de um modo distinto uma libertação face a Castela e a Espanha.  Por outro lado, em ambas se verificou a transferência de poder entre grupos. Na primeira da alta nobreza para cavaleiros e burgueses e a segunda de governantes estrangeiros para um grupo de fidalgos que se queriam libertar do poder castelhano. 

As duas têm no entanto uma grande diferença. A crise do século XIV concedeu oportunidades a grupos alargados da população, a do século XVII limitou essas oportunidades a um grupo reduzido da população. Só existia liberdade de comércio no reino e no Brasil. Neste território diferentes elementos dos vários grupos sociais podiam ter acesso a diferentes oportunidades, mas os lucros eram muito limitados a uma minoria. A crise do século XVII trouxe transformações, mas de sentido diferente às que tinham ocorrido no século XIV.

O quadro social e económico que saiu da crise do século XVII não pode ser caracterizado como de progresso económico. A administração feita pela Coroa era pouco eficaz e estava dominada por interesses locais, sobretudo associados aos interesses e poder de fidalgos e de membros locais do clero. A nobreza tinha uma atitude de grande consumo de produtos de luxo (alimentação, vestuário) e vivia segundo uma ideia não produtiva para o País. O poder da Coroa e do Estado diminuíram e só iriam melhorar no fim do século XVIII.

O século XVIII trará algumas alterações, onde encontramos uma nova forma de arte, o barroco e a chegada do ouro e dos diamantes brasileiros. Esta chegada fez criar um conjunto de hábitos improdutivos no País. Foram construídas muitas igrejas ricamente decoradas, muitos palácios de construção sumptuosa e eram dados muitos concertos na corte e nos solares da alta nobreza. Criaram-se academias, bibliotecas, mas tudo isso era para exclusivo benefício de uma  minoria ligada à nobreza e algum clero. As relações com o exterior por parte da Coroa mantinham uma ideia de luxo que era contraditória com os modos de vida de grande parte da população.

O século XVIII, na sua 2ª metade observaria algumas alterações que mudaram um pouco este quadro. Os estrangeirados (alunos que estudavam no estrangeiro e que regressaram) que mostraram a importância de reduzir as ideia de aparência e de luxo, que esclareceram da necessidade de desenvolver as actividades económicas e de acolher a participação de todos levariam a algumas mudanças importantes. Nascia o despotismo esclarecido, no qual uma figura terá um papel determinante, o Marquês de Pombal.

Só no século XIX com as Invasões Francesas e sobretudo com as ideias da Revolução Francesa e com algum triunfo da burguesia se deram alterações capazes de transformar o País. As alterações foram feitas à base de muito confronto e contradição entre diferentes elementos. O preço pago pela crise do século XVII e da União Ibérica foi muito alto e ficaria por muitas décadas. São essas consequências ainda presentes nos séculos XVIII e XIX que serão tratadas no estudo da desta disciplina no próximo ano lectivo, assim como aquilo que o século XX soube construir.

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